na virtualidade...

 


                Penso em como é muito difícil falarmos do nosso tempo. Sempre que penso nas palavras em "hoje em dia", "atualmente" e "na contemporaneidade" sinto que estou usando um termo esvaziado de sentido. O que significa precisamente o nosso tempo? Quando começou o agora? Quando é hoje? O hoje é sempre hoje porque vivemos sempre no agora. Mas desconfio que o fato de essas palavras parecerem tão estranhas hoje, tão anacrônicas talvez, seja porque nunca antes vivemos uma situação na qual estivemos tão conscientes da virtualidade de nossa existência. É como se a materialidade técnica - internet, digital, computadores - tivesse operado uma conversão total da nossa relação com o tempo e o espaço. Não vivemos mais no presente, vivemos permanentemente no virtual. Num tempo que é crônico e não cronológico. Encarnamos a imagem-cristal deleuziana: uma realidade na qual as potências do virtual e do atual se confundem a todo momento. Quando quisermos falar de nosso tempo, de nossa época de agora, é mais lógico que passemos a a falar em "virtualmente" ao invés de "atualmente". Por isso não há consenso, por isso há uma "crise da verdade". Não estamos vivendo na época da "pós-verdade". Estamos vivendo um tempo em que é impossível distinguir o verdadeiro do falso, a imagem do clichê. 

A Dama de Xangai (Orson Welles, 1947)


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